Insuficiência Cardíaca Diastólica: O que o anestesiologista precisa saber?

Associado Colaborador: Patrícia Wajnberg Gamermann

A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é uma síndrome complexa que resulta de qualquer alteração estrutural ou funcional do enchimento ou da ejeção ventricular. O Colégio Americano de Cardiologia classifica a ICC em ICC com fração de ejeção reduzida (<40%) ou com fração de ejeção preservada (>50%). A ICC com fração de ejeção preservada é chamada de ICC Diastólica. Na maioria dos casos essas patologias coexistem no mesmo paciente. É bom lembrar que tratam-se de síndromes distintas e não há uma progressão de uma para a outra.

Os fatores de risco para o desenvolvimento de ICC Diastólica são: idade maior que 70 anos, hipertensão, diabetes, insuficiência renal crônica, hipertrofia de ventrículo esquerdo, fibrilação atrial (FA), fumo, obesidade e Síndrome da Apnéia obstrutiva do sono.

O diagnóstico é feito por ecocardiografia e, menos comumente, por cateterização ventricular direita associado a sintomas característicos de ICC. Esses pacientes apresentam aumento da pressão diastólica do ventrículo esquerdo com consequente aumento da pressão venosa pulmonar e sintomas como dispneia por congestão pulmonar. Entre 70-80% dos pacientes apresentam hipertensão pulmonar associada.

Não há técnica anestésica preferencial para o manejo intra-operatório. O tipo de monitorização dependerá da gravidade do quadro e do porte da cirurgia. Os alvos incluem: evitar o desenvolvimento de taquicardia, manutenção do ritmo sinusal e manutenção de pressões de enchimento ventriculares mais elevadas do que o habitual. Ritmos cardíacos elevados limitam o tempo de enchimento ventricular e podem promover uma descompensação aguda.

A perda da contração atrial no caso de desenvolvimento de FA piora o enchimento ventricular. A manutenção da volemia é fundamental. Deve-se ter cuidado também em não repor volume excessivamente, já que esses pacientes podem desenvolver rapidamente edema pulmonar. A indução anestésica deve ser lenta e titulada para evitar alterações hemodinâmicas abruptas. A maioria dos agentes indutores deve ter sua dose reduzida em 30-50%. Evitar hipoxemia e hipercarbia, pois essas condições podem piorar a hipertensão pulmonar coexistente. No caso de desenvolvimento de edema agudo de pulmão no pós-operatório medicamentos como diuréticos e venodilatadores (nitroprussiato) podem ser usados para corrigir o quadro.

Não há tratamento específico descrito na literatura para a ICC Diastólica e as opções terapêuticas incluem: diuréticos, beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e venodilatadores. Os pacientes devem estar com seus sintomas otimizados antes de serem submetidos a procedimentos anestésicos.

Fonte: Heart failure with preserved ejection fraction (HFpEF): Implications for the
anesthesiologists, J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2018 Apr-Jun; 34(2): 161–165